A São Luís antiga, viva na memória dos mais velhos, bem como nos textos de Josué Montello, sempre foi uma cidade voltada para as modernidades – embora na prática a realidade dos fatos mostrasse exatamente o contrário. E uma de suas deliciosas contradições foram os bondes, ao mesmo tempo signo da modernidade e do atraso da cidade.
Data
do final do século XIX a instalação das primeiras linhas de bondes na cidade; a
primeira delas foi alocada na área mais nobre, o charmoso Largo do Palácio,
mais tarde Avenida Maranhense e hoje, Pedro II... contudo, a modernidade era
limitada em virtude das composições serem movidas por burros. Os pobres
burrinhos, tidos como símbolos do atraso, sempre foram escamoteados dos
registros oficiais da cidade.
A
despeito da lentidão dos burros, a rede de bondes evoluiu, acompanhando a
expansão da cidade para o interior. Com o avanço do século XX, a cidade
testemunhou mais um “avanço”: o governo estadual contratou a controversa ULEN
& COMPANY, empresa norte americana que a partir de meados dos anos 1920,
seria a responsável por instalar e administrar os tão sonhados bondes
elétricos! A era dos burros estava com os dias contados!
Além
dos bondes, a firma passou a cuidar das redes de abastecimento de água e de
esgoto, fornecimento de energia elétrica e a instalação de maquinário para
prensagem de algodão – na época o principal produto de exportação do Estado. No
entanto, a realidade era outra. De acordo com o historiador Sylvânio Aguiar
Mendes, a ULEN era “um tiro no escuro” pois se tratava de empresa sem
experiência na construção de infraestrutura para serviços públicos. Tal
realidade explicava a relação de amor e ódio que a população ludovicense tinha
com a empresa.
Ainda de acordo com Sylvânio Aguiar Mendes, ao longo dos anos 1930 e 1940 os americanos gozavam de muitos privilégios junto ao poder público e, em contrapartida, pouco investiam nos serviços: o número de bondes em circulação era insuficiente para atender a população de forma satisfatória. Seus críticos mencionavam que a única preocupação da ULEN era aumentar as tarifas. A partir de 1945, diante das muitas mudanças ocorridas no Brasil com o fim do Estado Novo, o presidente Eurico Gaspar Dutra, por decreto, encerrou as operações da ULEN no Brasil. Em 1947, foi criado o “Serviços de Água, Esgoto, Luz, Tração e Prensa de Algodão”, (SAELTPA) que manteve os bondes elétricos até o fim da década de 1950.
No início dos anos 1960, já sob a administração da D.T.U.S.L (Departamento de Transporte de São Luís), os bondes atravessavam um processo notória decadência e sucateamento; eles perdiam, dia após dia, o espaço para os ônibus e veículos em geral. Coube ao governo de José Sarney (1966-70), declarar a “morte dos bondes”, que causavam transtornos no tráfego. Diante disso todas as linhas foram desativadas antes do fim da década de 1960.
| Trecho da Avenida Getúlio Vargas em 1944, com destaque para os trilhos do bonde, na linha que dava acesso ao Anil. (Revista O Cruzeiro). |
| Bonde da linha São Pantaleão, superlotado e em processo de sucateamento, no início dos anos 1960. (Coleção Allen Morison). |
| Outro trecho da Avenida Getúlio, em cores, com os rivais bonde e ônibus, dividindo a cena, no início dos anos 1960. (Coleção Allen Morison). |
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| Mapa das linhas de bonde em 1965. (Caos Planejado). |
Referências:
Caos Planejado - Quando São Luís saiu dos trilhos
O
Imparcial - A história dos saudosos bondes de São Luís
Sylvânio Aguiar Mendes - Entre burros e empurrões: uma história dos bondes elétricos em São Luís (1924-1966).